Welcome to the The Anthrobscene
Published by kutikuti (HELSINKI, fI) +
"Welcome to the Anthrobscene" in Kuti #65 'Contemporary Portuguese Comics", 2022.
Book: Full-color digital print, 4 pages.
Originals: Digital collage.
Contributers: Alexandra Saldanha, Amanda Baeza, Ana Biscaia, Ana Maçã, André Ruivo, Cátia Serrão, Daniel Lima, Ema Gaspar, Hetamoé, Pedro Burgos, Ricardo Paião Oliveira, Rudolfo Mariano, Rudolfo, Rui Moura, Sara Boiça & Tiago Manuel.
Edited by Tommi Musturi. Marcos Farrajota & Pedro Moura.
About
Welcome to the Anthrobscene is a piece created especially for Kuti #65 'Contemporary Portuguese Comics', a special issue of the famed anthological magazine published by Finnish publisher Kutikuti, dedicated to the current scene of alternative and experimental comics in Portugal, accompanied by an art exhibition by participating authors titlled Passiflora – Kärsimyskukka. From the beginning, I designed my contribution to be read both as four individual pages and as a complete poster, a digital painting and a sequential narrative. I also chose to engage with a previous issue of the magazine that was particularly inspiring to me, Kuti #57, loosely devoted to comics and computing, including artificial intelligence (AI). Hence, this comic consists of a collage of visual fragments created using Neural Blender, an image-generation website that produces images based on text prompts, but whose technology is, by now, already somewhat "obsolete" when compared to more powerful generators that have been raising widespread fears of what one might call an artistic technological singularity. Thematically, the way in which I assembled this AI-generated imagery seeks explore the concept of "Anthrobscene," coined by the Finnish new media theorist Jussi Parikka, a pun on the term “Anthropocene”; for Parikka, the digital age, despite its promises of dematerialized clouds existing in a weightless realm within our smartphones, laptops, tablets and the ethereal link that connects them all—the Internet—has, in practice, resulted in the creation of environmental wastelands, such as when these devices end up in landfills filled with e-waste in the Global South, or massive amounts of rare ores are extracted from the Earth regardless of the hefty environmental and social costs involved. In this view, the Anthropocene under capitalism is inherently obscene, just as the threat of text-to-image AI art is rife with ethical dilemmas involving machines that, by digesting thousands of images fed into generative adversarial networks (GANs), learn to replicate artistic styles and spit out results that, in some cases, border on plagiarism and art theft.
In a world riddled with these increasingly complex questions and paradoxes, whose consequences and unforeseen interactions are difficult to grasp, linear narrative collapses. Even though there are, indeed, sixteen “traditional” comic panels hidden beneath the surface of this work (four per page), as more and more layers are added on top, any orderliness is eventually lost in a clutter of bewildering images. These include, in particular, images created by inserting “forbidden” or “censored” text into the AI generator—for example, sexually suggestive words, like "vagina," "penis," or "anus"—producing visual substitutes far more unsettling than what actual human anatomy would look like, and a lot closer to body horror and Cronenbergian flesh amalgamations. Among these distorted bodies, brutally torn from their original semiotic contexts and severed for the sake of the AI's spectacle of techno-aesthetic prowess, we see fragments of other places and times, from megafauna wandering across barren landscapes to metallic creatures reminiscent of Boston Dynamics' robot dogs, from disconnected (yet, in some cases, still recognizable, evidence of the Gestaltian resilience of the kyara) pieces of cute anime figures that emerge in a frenzy of bright colors mixed with Cthulhuesque tentacles, bones and electronic debris. At the end of the magazine, all authors were also given a small space for self-promotion, which I decided to fill with a short piece of poetic prose (one that, to my mind, secretly pays homage to the delirious imagination of Harlan Ellison, whose audiobooks accompanied me throughout the lengthy, emotionally draining and time-consuming process of putting together this comic-poster-painting) that’s not intended to be illustrative, but rather a supplement to what is, essentially, a comic without words or any possibility of translation.
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Welcome to the Anthrobscene é uma obra original criada para Kuti #65 'Contemporary Portuguese Comics', um número especial da conceituada revista antológica publicada pela editora finlandesa Kutikuti, dedicada à cena actual da banda desenhada alternativa e experimental em Portugal, acompanhada por uma exposição de arte com os autores participantes, intitulada Passiflora - Kärsimyskukka. Desde o início, concebi a minha contribuição para ser lida quer como quatro páginas individuais quer como um poster inteiro, uma pintura digital e uma narrativa sequencial. Quis, também, entrar em diálogo com um número anterior da revista que foi particularmente inspirador para mim, a Kuti #57, dedicado (de forma alargada) à banda desenhada e à computação, incluindo a inteligência artificial (IA). Assim, esta BD consiste numa colagem de fragmentos visuais criados através do Neural Blender, um website de geração de imagens que produz desenhos com base em palavras e frases, mas cuja tecnologia já está, neste momento, um pouco "obsoleta", quando comparada com geradores mais poderosos que têm suscitado receios generalizados daquilo que se poderia chamar uma singularidade tecnológica artística. Tematicamente, utilizei as imagens geradas por IA procurando explorar o conceito de "Anthrobscene", cunhado pelo teórico finlandês dos new media Jussi Parikka, um trocadilho sobre o termo "Anthropocene"; para Parikka, a era digital, apesar das suas promessas de acesso generalizado às nuvens desmaterializadas dento dos nossos smartphones, computadores portáteis, tablets e à ligação etérea que os liga a todos - a Internet - resultou, na prática, na criação de wastelands ambientais, tais como quando estes dispositivos acabam em aterros cheios de lixo electrónico no Sul Global, ou quando quantidades gigantescas de minérios raros são extraídas da Terra, independentemente dos pesados custos ambientais e sociais que tal acarreta. Perante estas situações, o Antropocénico sob o capitalismo torna-se obsceno, tal como a ameaça da arte AI de texto-imagem está repleta de dilemas éticos envolvendo máquinas que, ao digerirem milhares de imagens injetadas em generative adversarial networks (GANs), aprendem a replicar estilos artísticos e a cuspir resultados que, em alguns casos, bordejam o plágio e o roubo de arte.
Num mundo repleto destas questões e paradoxos cada vez mais complexos, cujas consequências e interacções imprevistas são difíceis de apreender, a narrativa linear desmorona-se. Embora existam, de facto, dezasseis painéis "tradicionais" de BD escondidos sob a superfície desta obra (quatro por página), à medida que mais e mais camadas são acrescentadas por cima, qualquer ordeamento acaba por se perder numa desordem de imagens desconcertantes. Estas incluem, em particular, imagens criadas através da inserção de texto "proíbido" ou "censurado" no gerador de IA—por exemplo, palavras sexualmente sugestivas, como "vagina", "pénis" ou "ânus"—produzindo substitutos visuais muito mais perturbadores do que a anatomia humana verdadeira, e muito mais próximos de body horror e de amálgamas de carne Cronenbergianas. Entre estes corpos distorcidos, brutalmente arrancados dos seus contextos semióticos originais e decepados em nome das espectaculares proezas tecno-estéticas das IAs, vemos fragmentos de outros lugares e épocas, desde megafauna a vaguear por paisagens estéreis até criaturas metálicas que lembram os cães robôs da Boston Dynamics, ou pedaços de figuras de animé que emergem num frenesim de cores brilhantes misturadas com tentáculos cthulhuescos, ossos e detritos electrónicos. No final da revista, todos os autores receberam também um pequeno espaço para auto-promoção, que decidi preencher com uma prosa poética (que, na minha cabeça, presta secretamente homenagem à imaginação delirante de Harlan Ellison, cujos audiolivros me acompanharam durante todo o longo, emocionalmente desgastante e demorado processo de montagem desta obra) que, não pretendendo ser ilustrativa, serve de suplemento ao que é, essencialmente, uma banda desenhada sem palavras ou possibilidade de tradução.
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